
"tic...tac...tic...tac..."
E o tempo vai passando, sem perdoar meus receios, sem parar pra que eu tome minhas decisões ou cometa meus erros. O tempo vai passando e o mundo não vai parar, mesmo que eu grite "Pare!".
...
Eu estava quase enlouquecendo com o barulho do relógio que aumentava e me irritava mais a cada dia. Dias esses que acabaram por perder a cor e até mesmo o sentido. As paredes quase me sufocavam e eu já não aguentava mais ter meus pensamentos rodando sem chegar a lugar algum. Definitivamente basta!
Havia chegado ao ápice da loucura, e só então puder perceber o que aquilo estava fazendo comigo. Me olhei no espelho e enxerguei a face envelhecida, com lágrimas nos cantos dos olhos e cicatrizes, várias cicatrizes... Tudo que eu evitara durante todos esses anos e agora estava ali, diante de mim, dentro de mim. Fechei os olhos e respirei fundo, até encontrar uma solução. Fiz com que meus pensamentos voltassem ao caminho correto e só então as cicatrizes foram desaparecendo, lentamente, até não restar mais nenhuma. As lágrimas sumiram e o sorriso voltou. Aquele sim era meu verdadeiro reflexo, e só meu. Me lembrei então, onde havia colocado a chave da porta. Corri ao encontro dela e finalmente pude abrir a estreita porta de madeira que me separava do mundo lá fora. Prometi a mim mesma que não me deixaria levar pela loucura e que nada mais poderia me corroer, e assim contemplei o lindo dia de verão, sem pensar no antes ou no depois. Contemplei aquele dia como se fosse o último e assim pude ver a outra face do tempo: a que põe os momentos, as horas e os dias a meu favor.