Tem muito chicote me chicoteando a pele frágil. Daí eu tenho vontade de correr... mas não do chicote, necessariamente. É uma vontade grande de correr de mim. E correndo de mim eu me desvencilharia dos chicotes, como consequência.
Sinto como se eu não pudesse me dar ao luxo de parar e respirar. Tem um mundo pesando nos meus ombros... Tem medo, tanto medo. Do rumo incerto que as coisas estão tomando. Medo de rumar para um caminho que não é meu...
Tô cansada de me calar. De silenciar e de sentir isso pesando em mim. Cansada de carregar lata d’água na cabeça. De ser carinhosa, doce, afobada, impaciente, mimada. Quero mudar palavras, frases, vírgulas, parágrafos... É uma daquelas velhas vontades de provar pra mim que não, as coisas não são como são. Que posso mudar tudo, mesmo que me neguem isso.
E por que tanta revolta, você vai dizer?
Porque cansei de viver pro amanhã. De viver esperando que o próximo dia seja lindo. Esperando que você mude ou que se importe ou que telefone... Cansei de fingir que estou bem, esperando pelo amanhã em que realmente estarei. Cansei de fingir que não vejo, não sinto, não gosto. Cansei de ilusões e de dizer que tudo vai ficar bem, que tudo vai ser maravilhoso. Apenas me sinto farta. Daí é só questão de tempo pra jogar tudo pro alto. Porque tem gotas acumulando no copo sobre a mesa.